Google homenageia Jorge Lafond e seu personagem Vera Verão, a rainha dos barracos
Publicado em:
29/03/2023
Há 20 anos atrás Jorge Lafond abriu espaço para diversidade na TV
Hoje 29/03/2023 o Google faz uma homenagem a Jorge Lafond, através do Doogle, um logotipo temporário, na página inicial do Google para comemorar feriados, conquistas e “figuras históricas notórias”.
Quem foi Jorge Lafond, para receber uma homenagem do todo poderoso Google?
Ele foi um famoso ator, humorista, bailarino e Drag Queen, com trabalhos na TV e em filmes.
Nascido em 1952, em Nilópolis, Rio de janeiro, um bairro da periferia, que ainda hoje é muito pobre, Jorge entendeu muito cedo que era gay.
Ele vivia num mundo diferente do que temos hoje. Naquela época o preconceito era muito forte, a palavra gay ainda não era usada, e os homossexuais eram chamados pejorativamente de “bichas”.
Lafond, apesar da origem humilde, buscou formação, concluindo o curso de “Artes Cênicas” na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro”), além de se especializar em ballet clássico e dança africana.
Cedo, Lafond pegava o que surgia, se apresentando tanto em boates, como em cabarés do Rio de Janeiro. Dançou em lugares tão distintos como shows elegantes em Copacabana até inferninhos decadentes na Praça Mauá.
Contratado por Haroldo Costa, viajou para o exterior para se apresentar como bailarino, se apresentando nos Estados Unidos e diversos países da Europa. Ele tinha dezessete anos quando foi contratado por Costa, com quem permaneceu trabalhando por dez anos.
No cinema, atuou como dançarino no filme Rio Babilônia (1982), e também como ator, nos filmes Bar Esperança (1983), Bete Balanço (1984), Rock Estrela (1986), Leila Diniz (1987) e Sonhei com Você (1988).
Em 1974 entrou no Fantástico da TV Globo como dançarino e em 1981 foi para o programa “Viva o Gordo” apresentado por Jô Soares.
Ainda na Globo atuou na novela Sassaricando, onde fazia o personagem Bob Bacall, que era muito exagerado, teatral, o começo da construção de Vera Verão.
Nos “Trapalhões”, um de seus papéis marcantes foi o do Soldado Divino, o primo de Mussum, no quartel do Sargento Pincel. Aqui Lafond já tinha consciência de como chegar ao sucesso, usando a caricatura e o exagero de sua opção sexual. E assim nasce a Vera Verão.
Mas ele explodiu mesmo em 1992, quando consolidou a personagem Vera Verão no programa A Praça é Nossa, no SBT. Ele faria a personagem até a sua morte, em 2003.
Ele conseguiu projeção, sucesso artístico e financeiro, através da caricatura, mostrando a “bicha louca”, exagerada, encrenqueira. A mesmo tempo em que se projetava como ator e humorista, reforçava a visão do homossexualismo como “fora da normalidade”.
Neste terceiro vídeo o confusão é com a Gretchen, para ninguém botar defeito.
Nos três vídeos, o final é sempre um “barraco”, uma confusão mostrada para divertir o expectador.
Sempre causando polêmicas, desta vez por suas fantasias, Lafond era grande destaque nos desfiles de carnaval do Rio de Janeiro.
Em 2003, Jorge faleceu por uma parada cardíaca, aos 50 anos, e com ele se foi Vera Verão.
Zezé Motta fala do artista com admiração:
“Lafond rompeu barreiras. Negro, artista e gay em uma época que tudo era mais difícil…“.
“Eterno! Abriu portas!“.
Por fim, é importante lembrar que o papel de Vera Verão era uma caricatura exagerada e estereotipada de uma pessoa LGBTQIA+.
Embora Jorge Lafond tenha utilizado seu talento para dar visibilidade à comunidade LGBTQIA+ e lutar contra o preconceito, o personagem Vera Verão também pode ter contribuído para perpetuar estereótipos negativos e reforçar preconceitos.
Hoje em dia, a representação de pessoas LGBTQIA+ na mídia é mais diversa e realista, o que permite que os indivíduos LGBTQIA+ sejam retratados como seres humanos complexos, com suas virtudes e limitações, em vez de caricaturas unidimensionais.
Ao mesmo tempo em que Lafond abriu portas mostrando que a diversidade existe, ele era um produto de seu tempo.
Nós não estaríamos onde estamos hoje, se Lafond não houvesse feito seu trabalho de maneira tão fenomenal. Foi corajoso, certamente enfrentou muitos preconceitos e abriu caminhos.
O Google tem toda a razão ao fazer esta homenagem!
Veja maravilhosa entrevista de Lafond com Gabi, clicando aqui.
Veja mais sobre televisão clicando aqui.